Produtores de Mato Grosso amargaram uma receita líquida operacional negativa na temporada 2023/24, por conta de uma quebra acentuada de safra e de preços baixos da soja que não refletiram o problema climático, e devem carregar dificuldades que podem evitar expansões de áreas na próxima temporada 2024/25, avaliou o superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) nesta terça-feira.
Cleiton Gauer ponderou que o instituto de análises ligado aos produtores no maior Estado agrícola do Brasil está fazendo levantamentos para a próxima safra, que começa a ser plantada em setembro. Mas ele disse que por ora seu sentimento é de que as expansões sejam deixadas “de lado”, algo que acontece em momentos de crise.
Na temporada 2023/24, com a colheita de soja sendo encerrada no Estado, as expansões já tinham perdido força, com a área plantada com soja ficando quase estável em 12,13 milhões de hectares, diferentemente do ano anterior (2022/23), quando o plantio avançou cerca de 700 mil hectares, ou de 2021/22, quando houve um salto de 1 milhão de hectares.
“Como a gente observa isso historicamente acontecendo, o produtor dificilmente lá no Estado para de plantar, mas ele para de fazer novos investimentos para fazer novas expansões”, comentou Gauer.
Os comentários foram feitos em apresentação na internet para analisar os números de 2023/24, um ciclo no qual o Imea registra uma quebra de safra de 15% na comparação com a temporada recorde do ano anterior, para 38,4 milhões de toneladas.
Com a quebra de safra, o Mato Grosso deve ficar com uma fatia de 25% da produção brasileira na temporada atual, versus cerca de 30% na temporada anterior, segundo dados da estatal Conab.
Apesar da produção menor no grande produtor, os preços da commodity não reagiram como o esperado, considerando a expectativa de safras abundantes na Argentina, Rio Grande do Sul, entre outros fatores, o que nubla o cenário para a próxima temporada.
Para o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Glauber Silveira, o Mato Grosso viu nos últimos anos avanço do plantio em muitas áreas arenosas, geralmente menos produtivas, que tendem a ser evitadas em uma situação de crise na nova temporada.
“Acho que deve ter recuo nas áreas arenosas”, disse ele, preferindo não estimar um total, lembrando que em situação parecida no passado muita gente mudou as terras de grãos para eucaliptos.
Receita negativa
O pesquisador Mauro Osaki, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, apresentou no evento números que apontam uma queda de 130% na receita líquida operacional (RLO) com a soja no município de Sorriso (MT), maior produtor da oleaginosa do Brasil.
Ele estimou a RLO negativa em 370 reais por hectare em Sorriso, diante dos resultados decepcionantes com as produtividades em 2023/24. Na temporada anterior, o mesmo cálculo indicou uma receita de 1.421 reais/hectare.
Osaki citou ainda queda na RLO de Rio Verde (GO) de 86% ante o ano passado e recuo de 89% no indicador de Dourados (MS), além de perda de 87% em Cascavel (PR).
Para 2024/25, na hipótese de o produtor ter uma colheita razoável, o resultado seria afetado pelas dívidas de 2023/24.
“Parece que a coisa não está tão melhor olhando para 24/25… Precisaria de 55 sacas (por hectare) para pagar o custo operacional, contra uma produtividade média de 59 (esperada baseada em safras passadas). Isso não está nada mal, paga o custo operacional, mas tem que lembrar que está carregando a dívida que não pagou este ano, mais o custo do investimento”, afirmou.
Segundo Osaki, o cenário também é semelhante para outras regiões, ainda que Mato Grosso tenha visto uma quebra mais expressiva na temporada atual. “Se não tivesse safra negativa e investimento a pagar, estaria tranquilo, mas… não tem grande sinal que o produtor vai conseguir saldar rapidamente este efeito negativo da safra 23/24”, disse ele, lembrando que o agricultor “vai ter de repensar o planejamento” e cortar custos.
Osaki acrescentou que a queda da produtividade e dos preços da soja “venceu” o efeito dos insumos mais baratos, especialmente fertilizantes e sementes. E ponderou que seus cálculos são baseados nos que plantam em terras próprias, indicando que no caso dos arrendatários a situação é muito pior.