Durante o evento SDGs in Brazil, organizado pelo Pacto Global da ONU no Brasil em Nova York (EUA) nesta sexta-feira (20), o ator, diretor e escritor Lázaro Ramos defendeu a justiça ambiental e alertou para a necessidade de superar a lógica colonial que trata o Sul Global como uma região de exploração.
“A África é o continente mais impactado, mesmo contribuindo apenas por 5% das emissões. Mais de 110 milhões de pessoas foram impactadas pelo clima”, afirma. “Há quase 20 anos os cientistas preveem as mudanças do clima. Então porque enxergamos isso como uma cena de filme futurista?”, questiona.
Segundo o artista, escassez de alimentos, migração em massa, enchentes e enxurradas e seca extrema são assuntos que estão acontecendo agora de forma imediata e tangível e não deve poupar ninguém. Mesmo sendo um ativista pela luta antirracismo, Ramos reconhece que não usava com frequência o tema do racismo ambiental, apesar de ser conhecida a falta de acesso de pessoas negras a condições básicas, como saneamento básico.
“Quando eu fui estudar, eu percebi que era importante a gente trazer esse ponto de vista e reforçar um pouco mais esse tema para poder conscientizar mais pessoas. Esse mapeamento já existe, tem grupos que estão se preocupando com isso, que estão falando sobre isso, tem teses de mestrado que eu acabei de descobrir que estão falando sobre isso, mas ainda não é um debate popular”, afirma.
Segundo o ator, o racismo ambiental é constituído por injustiças sociais e ambientais que recaem de forma implacável sobre etnias e populações mais vulneráveis. Ele lembrou que a tragédia causada pelas chuvas que deixaram um rastro de morte e destruição no Rio Grande do Sul evidencia a desigualdade em termos de acesso a serviços como saneamento básico e moradia digna.
“Racismo ambiental une as comunidades a uma sentença: de serem as mais afetadas pelos efeitos mais nefastos das mudanças climáticas”, disse.
Ele explica que o racismo ambiental no Sul Global reflete a histórica exploração de recursos e territórios dessas regiões, onde comunidades vulneráveis, muitas vezes majoritariamente negras e indígenas, são desproporcionalmente afetadas pela degradação ambiental. Na análise de Ramos, a lógica colonial perpetua a extração de riquezas e a imposição de danos ambientais, aprofundando as desigualdades sociais e econômicas nesses países.
“A dinâmica global relegou o Sul Global à periferia do mundo, região vista como território de extração predatória, com mão de obra barata, regulação frágil e região mais impactada pelas mudanças do clima.”
Diante de uma plateia composta por empresários, influenciadores, autoridades e representantes do governo, Lázaro Ramos ressaltou que petróleo, gás natural e carvão, responsáveis pela industrialização do Norte Global, são extraídos do Sul Global por empresas sediadas no Norte.