O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foi preso novamente, nesta sexta-feira (22), por descumprir medidas cautelares e tentar obstruir a Justiça.
A ordem de prisão preventiva do militar foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O magistrado é o relator, na Corte, do inquérito que apura os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, que culminaram na invasão às sedes dos Três Poderes, em Brasília. Moraes também é o responsável pelos inquéritos das milícias digitais e das fake news.
Ao comunicar a nova prisão de Cid, o STF não informou quais teriam sido as medidas cautelares violadas pelo militar. Em setembro do ano passado, quando teve sua primeira prisão preventiva revogada por Moraes, o tenente-coronel foi alvo de sete medidas.
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Veja quais foram essas medidas cautelares:
- Uso de tornozeleira eletrônica e proibição de se ausentar da Comarca, de sair de casa à noite e nos fins de semana;
- Afastamento do exercício das funções de seu cargo de oficial no Exército;
- Obrigação de se apresentar semanalmente perante ao Juízo da Execução da Comarca de origem;
- Proibição de se ausentar do país e cancelamento de todos os passaportes emitidos em nome do investigado;
- Suspensão imediata de porte de arma de fogo, bem como de realizar atividades de colecionador, tiro desportivo e caça;
- Proibição de utilização de redes sociais;
- Proibição de se comunicar com os demais investigados, com exceção de Gabriela Cid (esposa), Beatriz Cid (filha) e Mauro Lourena Cid (pai).
Em sua decisão de setembro de 2023, Moraes havia anotado que “o descumprimento de qualquer uma das medidas alternativas” implicaria a “revogação e decretação da prisão” – o que ocorreu nesta sexta.
Mauro Cid foi preso depois de participar de uma audiência no STF de confirmação dos termos de sua delação premiada, no âmbito do inquérito que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado no Brasil, em 2022.
O episódio ocorre após o vazamento de áudios em que Mauro Cid diz a um amigo ter sido vítima de coação por parte da Polícia Federal (PF) durante seus depoimentos.
“Eles [investigadores] queriam que eu falasse coisa que eu não sei, que não aconteceu”, afirma Cid em uma das gravações. Segundo a Veja, trata-se de uma conversa do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro com um amigo. A interação durou cerca de uma hora. O diálogo teria sido captado na semana passada, após o sétimo depoimento de Cid à PF, que durou cerca de nove horas.
“Você pode falar o que quiser. Eles não aceitavam e discutiam. E discutiam que a minha versão não era a verdadeira, que não podia ter sido assim, que eu estava mentindo”, diz Cid em um dos trechos do áudio.
Ainda de acordo com o militar, os investigadores já estão com a “narrativa pronta” sobre o caso. Além dos atos golpistas, o tenente-coronel menciona a investigação sobre a suposta falsificação no cartão de vacinação de Bolsonaro – que levou aos indiciamentos do próprio Cid, do ex-presidente e de outras 15 pessoas.
“Eles estão com a narrativa pronta. Eles não queriam saber a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa deles. Entendeu? É isso que eles queriam”, afirmou. “E todas as vezes eles falavam: ‘Olha, mas a sua colaboração. Olha, a sua colaboração está muito boa’. Ele [o delegado] até falou: ‘Vacina, por exemplo, você vai ser indiciado por nove negócios de vacina, nove tentativas de falsificação de vacina. Vai ser indiciado por associação criminosa e mais um termo lá’. Ele falou assim: ‘Só nessa brincadeira são 30 anos para você’”, relata Mauro Cid.