Nos últimos anos de pesquisa desenvolvi com os alunos no Coppead diferentes estudos cujo foco era o financiamento climático. Para tanto, foi necessário elaborar indicadores para capturar o risco climático presente na carteira dos bancos, bem como o grau de transparência das políticas socioambiental dos bancos brasileiros.
O SETI avalia o nível de transparência dos bancos em relação às suas políticas socioambientais. Este indicador é crucial para entender o compromisso dos bancos com a sustentabilidade, pois uma maior transparência é frequentemente associada a uma maior responsabilidade ambiental. O SERI, por sua vez, mede o risco ambiental no portfólio de crédito dos bancos, oferecendo uma visão do impacto ambiental das suas atividades de empréstimo. Ambos os indicadores são fundamentais para avaliar como os bancos estão contribuindo para o financiamento climático e o desenvolvimento sustentável.
O setor bancário desempenha um papel crucial no financiamento climático, servindo como intermediário na alocação de recursos para projetos sustentáveis. Neste sentido, o estudo “Evaluating Greenwashing in the Banking Sector”, produzido com a mestre pelo Coppead Giulia Benguigui, fornece insights valiosos sobre como os bancos estão abordando essas questões.
Os achados do estudo mencionado, e de outros em fase de conclusão, sugerem uma associação positiva entre o crescimento do crédito e o SERI. Ou seja, há um fluxo de crédito positivo para setores mais limpos. Este resultado indica que, dada a oportunidade de fechar mais negócios de empréstimos, as instituições financeiras demonstram uma preferência por emprestar a tomadores de crédito mais verdes. Um comportamento que sugere uma penalização a setores “brown”.
Ou seja, com base nos resultados, os bancos brasileiros estão reagindo positivamente ao cenário de crescente pressão ambientalista. Além disso, uma possível implicação dos efeitos é que, à medida que os bancos aumentam sua disposição para emprestar a indústrias e negócios mais limpos, eles transmitem o risco da transição climática para as empresas, que são cada vez mais incentivadas a cumprir com as diretrizes de negócios verdes para terem acesso mais fácil ao crédito.
Outro resultado também muito importante foi a conexão entre os indicadores SETI e SERI. Encontramos, a partir das estimações de um painel dos principais bancos brasileiros, uma relação negativa entre a transparência socioambiental (SETI) e o financiamento de setores de alto risco socioambiental.
Tal achado sugere que bancos com maior transparência tendem a emprestar menos para setores poluentes, desafiando a noção de que o setor bancário pratica greenwashing em larga escala. Essa descoberta ressalta a importância da transparência bancária na promoção de práticas sustentáveis.
Fica claro, assim, que os indicadores SERI e SETI podem ser utilizados como ferramentas para melhorar as estratégias bancárias de sustentabilidade e alinhar suas atividades de empréstimo com objetivos ambientais mais amplos. Ou seja, ao dispormos de medidas como o SETI e o SERI é possível reconhecer avanços, melhorar, ou não, a qualidade das divulgações ambientais e a padronização dos indicadores de sustentabilidade.
Os achados dos estudos comentados e outros que podem ser encontrados em minha página pessoal (https://sites.google.com/view/claudio-de-moraes), sublinham a importância da transparência e da responsabilidade ambiental no setor bancário, apontando para um caminho positivo em direção à sustentabilidade.
Por fim, a principal conclusão do(s) trabalho(s) joga luz em uma questão central no financiamento climático. Em geral, o financiamento ambiental é visto como uma prerrogativa exclusiva do Estado, por meio de programas governamentais. Porém, os estudos mencionados revelam uma realidade mais abrangente, na qual os bancos privados também desempenham um papel significativo na promoção do financiamento ambiental.
A colaboração dos bancos privados amplia as fronteiras do financiamento sustentável, evidenciando uma participação ativa na transição para práticas mais verdes.
Desta forma, é fundamental assegurar que o setor bancário, tanto público quanto privado, possa contribuir integralmente para a construção de um futuro mais verde e sustentável para o Brasil. Essa sinergia entre os esforços estatais e a iniciativa privada pode acelerar a implementação de práticas sustentáveis em todo o espectro econômico, reforçando o papel crucial do setor bancário na promoção da sustentabilidade ambiental.
Claudio de Moraes é professor de Macroeconomia e Finanças do Coppead UFRJ. Doutor em Economia com ênfase em macroeconomia e Finanças. Atua no Banco Central do Brasil na área de estabilidade financeira, com experiência em regulação e supervisão bancária. Especialista em Banking, possui prêmios na área e artigos publicados em revistas internacionais especializadas. Mantém projeto de pesquisa com pesquisadores da UPB Medellin-Colômbia e é Revisor de periódicos internacionais. Estruturou cursos de pós-graduação nas áreas de economia bancária aplicada (Banking) e sistemas financeiros comparados (Global Economics). Atualmente participa da coordenação de projetos de mestrado e doutorado que visam discutir soluções para a maior eficiência e segurança do sistema financeiro.
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