Na semana em que a Enauta apresentou proposta de fusão com a 3R Petroleum, um outro negócio, de menor magnitude, não passou despercebido. A Azevedo & Travassos, centenária construtora de obras pesadas, listada na Bolsa há quase 40 anos, oficializou sua volta à exploração de petróleo. A ação AZEV4, de liquidez reduzida, disparou mais de 20% com a notícia que agitou ainda mais o universo das petroleiras independentes, as junior oils. A companhia adquiriu um conjunto de ativos onshore (terrestres) na bacia do Potiguar e já está de olho em outras oito possíveis aquisições, com grandes chances de novas compras serem realizadas este ano.
“Para alguns desses ativos, já até assinamos memorando de entendimento. Mas as aquisições dependem da avaliação da nossa equipe técnica. Estamos sendo muito seletivos”, afirmou Ivan Carvalho, CEO do Grupo Azevedo & Travassos ao IM Business.
Foi assim com os cinco campos de petróleo e os dois blocos exploratórios da Phoenix Óleo e Gás que a A&T recém-adquiriu. Há pouco mais de um mês, as empresas haviam assinado um memorando de entendimento para a transação envolvendo os ativos que compõem o Polo Periquito. A aquisição saiu quase um ano depois da criação da Azevedo & Travassos Petróleo (ATP), fundada em junho do ano passado para atuar na exploração de óleo e gás.
Assim, a A&T voltou a uma atividade da qual havia se retirado há mais de duas décadas. Em 2000, o grupo vendeu seu negócio de exploração para uma empresa canadense em um momento de turbulência nos preços do petróleo. Agora, retoma a exploração numa região que desbravou de forma pioneira como petrolífera independente, entre o fim da década de 1980 e início da de 1990.
“Foram mais de 30 anos ali trabalhando diretamente com exploração e produção em quatro campos que descobrimos, operamos e desenvolvemos”, relembra o executivo, um dos engenheiros que lideraram as equipes de perfuração.
A nova ATP, porém, tem outra estratégia. “O projeto 100% exploratório que fizemos no passado não é o nosso objetivo hoje. Nesse primeiro momento, vamos procurar sempre por ativos que já tenham alguma produção”, explica Carvalho. “O greenfield tem um risco maior, precisa de um capital maior. Não está descartado, mas, primeiro, precisamos garantir uma receita sólida vinda do próprio petróleo para só então fazer projetos exploratórios mais arriscados”.
Potencial inexplorado
Os campos adquiridos da Phoenix possuem 16 poços, sendo que apenas dois estão operando e produzindo. A A&T planeja reativar rapidamente outros sete para elevar a produção a 150 barris de óleo por dia. A empresa estima um volume próximo a 18 milhões de barris nas reservas do Polo Periquito.
“Mas o polo, em toda a sua vida, produziu menos de 1% disso. Não se trata de um campo maduro, mas não foi desenvolvido adequadamente e tem capacidade rápida de aumento de produção com um custo baixo”, esclarece o CEO.
O perfil de Periquito indica o que a A&T está buscando no momento: ativos considerados nanicos pelas junior oils de maior porte ou que estão “hibernando” nas mãos de pequenos produtores, pois não puderam ter o seu potencial explorado por limitações técnicas ou financeiras – foi o caso da Phoenix.
A empresa não descarta adquirir campos maduros ou até mesmo combinar negócios com outro player para atuar também no offshore. “Nesse caso, o ideal é que se tenha uma parceria com empresas do mesmo porte ou maiores, para que faça sentido e o risco seja mitigado”, diz Carvalho.
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A Azevedo & Travassos admite que seu plano de negócios é bem diferente do das junior oils, que se consolidaram nas últimas décadas, em um ambiente mais bem regulado e com infraestrutura muito mais moderna do que a companhia dispunha 30 anos atrás. A meta de atingir produção de mil barris de petróleo por dia até o fim deste ano é bem tímida comparada ao que players como 3R e PetroRecônvavo produzem hoje. Mesmo assim, a A&T quer ter um papel relevante na consolidação do segmento e vê um momento propício para expandir seu portfólio com novas aquisições.
A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) ainda precisa autorizar a transferência da outorga do Polo Periquito, da Phoenix para a A&T. “A autorização deve sair dentro de dois meses, no máximo. É o tempo de prepararmos os planos de investimento, de trabalho. Acredito que até o final do ano a gente já tenha uma produção significativa para apresentar e auxiliar o nosso balanço de forma positiva”, conclui o CEO.
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