A bolsa brasileira bateu nesta terça-feira (16) em seu pior momento neste ano, ao tocar nos 123.756 pontos, enquanto o dólar renovou sua máxima, não só de 2024, mas em mais de um ano.
As principais causas para a piora da situação dos ativos brasileiros, tanto os de risco quanto a moeda, são, novamente, a deterioração do cenário geopolítico mundial, a incerteza quanto à trajetória dos juros nos EUA e a piora fiscal brasileira.
Por volta das 13h55, o Ibovespa cedia 0,44%, aos 124.776 pontos, e o dólar avançava 1,36%, a R$ 5,25.
Lá fora, a tensão entre Irã e Israel continua segurando a aversão ao risco em níveis elevados. O primeiro país, durante o final de semana, atacou o segundo, o que alimenta o temor de uma escalada da guerra no Oriente Médio – hoje concentrada apenas na Faixa de Gaza. A região tem extrema importância na economia mundial, por ser a maior produtora de petróleo do planeta.
“O primeiro ponto, no nosso ver, é a questão do cenário geopolítico. O receio é de que a guerra ganhe escala, o que pode impactar os mercados globais como um todo, já que estressaria ainda mais as cotações do petróleo, voltando a trazer mais pressões inflacionárias”, fala João Vitor Freitas, analista Toro.
O Brent, com o conflito no Oriente Médio, se mantém acima dos US$ 90, o que tende a impulsionar os dados de inflação mundo afora – isso em um momento no qual alguns dados macroeconômicos, principalmente nos EUA, continuam alimentando temores de que a alta dos preços não está controlada, o que deve levar o Federal Reserve a postergar o início do seu ciclo de queda dos juros.
“Temos os dados mais fortes na economia americana, tanto em atividade, inflação e emprego. Eles provavelmente vão fazer com que os juros fiquem mais altos por mais tempo”, diz Max Bohm, estrategista da Nomus. Ele lembra ainda que, na última semana, a perspectiva passou de três cortes em 2024 para dois após a publicação do CPI (inflação ao consumidor, na sigla em inglês) de março vir além do esperado.
Juros americanos sobem
Os treasuries yields para dez anos, nesta terça, são negociados por volta das 12h a uma taxa de 4,647%, no maior patamar desde setembro do ano passado. “O dinheiro, com isso, sai de mercados emergentes e volta para a renda fixa americana”, fala Bohm.
Fora isso, especialistas lembram que, em momentos de tensão geopolítica, é normal que investidores evitem risco, optando pelas opções mais seguras – que é o caso, novamente, dos treasuries. Nesses momentos, países emergentes, como o Brasil, sofrem mais, já que são considerados mais arriscados e mais sensíveis a crises globais.
“Enquanto a incerteza geopolítica global, o adiamento do início do ciclo de cortes de juros nos EUA e a confirmação de mudança na meta fiscal do Brasil em 2025 estão contribuindo para a queda do índice Ibovespa, o dólar segue se valorizando em relação ao real devido às expectativas sobre os próximos passos do Federal Reserve na política monetária norte-americana, após a divulgação de indicadores de inflação dos EUA”, corrobora Gustavo Corradi Matos, CIO da Medici Asset.
Fiscal também atrapalha Ibovespa
Se o cenário externo não fosse suficiente, a Bolsa brasileira é empurrada para baixo e o câmbio para cima também com ajuda das notícias provindas de Brasília. Desde ontem, o Executivo Federal vem sinalizando que não vai cumprir as metas fiscais anteriormente estipuladas por seus próprios membros.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou ontem que o governo federal decidiu empurrar a meta de zerar o déficit primário de 2024 para 2025. Fora isso, de acordo com o texto do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) do ano que vem, a meta de resultado primário do Governo Central em 2025 deixa de ser um superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) e passa para um quadro de equilíbrio entre receitas e despesas.
“É uma sinalização de que eles não estão conseguindo conter as despesas. Vão ter que acessar mais receita via impostos. E isso coloca a situação fiscal do país em um momento mais delicado”, diz Bohm. “No Brasil, a confirmação de que o governo irá propor uma meta de déficit primário zero em 2025, em vez do superávit de 0,5% do PIB, está causando uma forte alta principalmente nas taxas de longo prazo”, complementa Matos.
A alta da renda fixa local também ajuda a derrubar o Ibovespa.