Após flertar com o rompimento do piso de R$ 5,00 no início da tarde desta quinta-feira, o dólar à vista ganhou força no mercado doméstico nas duas últimas horas de pregão, em meio a uma piora do humor no exterior. Declarações cautelosas de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), com alertas para as leituras recentes de inflação, levaram a uma perda de fôlego dos ativos de risco, na véspera da divulgação do relatório de emprego (payroll) nos EUA em março.
Cenário externo e doméstico
Mais cedo, indicadores da economia americana, em especial a alta do número de pedidos de auxílio-desemprego, aliviaram parte dos temores de que o Federal Reserve postergue o início do corte de juros para além de junho – o que deu fôlego ao real e a outras divisas emergentes. A maré virou a tarde com discursos de dirigentes do BC americano.
A presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, afirmou que o processo de desinflação deve se dar em ritmo mais lento daqui para frente. Já presidente da regional de Minneapolis, Neel Kashkari, disse que os dados recentes de preços foram preocupantes e que, caso a inflação se mantenha nos níveis atuais, vai se questionar se faz sentido cortar os juros neste ano.
“O resultado dos pedidos de auxílio-desemprego trouxe esperança de que o payroll pudesse vir abaixo do esperado e gerou otimismo nos mercados. Mas o dólar ganhou força com os representantes do BC norte-americano reafirmando a preocupação com a inflação”, afirma head de câmbio para o norte e nordeste da B&T Câmbio, Diego Costa.
À tarde, o Banco Central informou que o fluxo cambial na semana passada (entre 25 e 28 de março) foi negativo em US$ US$ 540 milhões, em razão de saídas líquidas de US$ US$ 3,489 bilhões pelo canal financeiro. Em março, o fluxo total foi positivo em US$ 1,752 bilhão, com as entradas líquidas de US$ 7,292 bilhões via comércio exterior superando as saídas líquidas de US$ 5,540 bilhões pela conta financeira.
Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) afirmou que a balança comercial registrou superávit de US$ 7,483 bilhões em março, acima da mediana de Projeções Broadcast (US$ 6,950 bilhões). No ano, o saldo comercial é positivo em US$ 19,07 bilhões.
Após o resultado do primeiro trimestre, o ministério revisou a previsão de superávit comercial de 2024 para baixo de US$ 94,4 bilhões para US$ 73,5 bilhões. Analistas ouvidos pelo Broadcast continuam a prever superávit primário forte neste ano, o que contribui para mitigar eventuais apostas mais firmes contra o real.
Operadores especulam se o avanço do dólar para o nível de R$ 5,05 pode levar a uma nova intervenção do Banco Central. Na terça-feira, o BC vendeu lote adicional de US$ 1 bilhão em swap cambial com início em 15 de abril. De acordo com o BC, a medida foi necessária para atender a demanda por dólar futuro em razão dos efeitos de resgate de NTN-A3.
“Com a venda de swap extra, o BC só lembrou ao mercado que está atento para dar mais liquidez. Se continuasse a atuar, iria ‘secar gelo’. A intenção parece ter sido estancar a onda compradora, o que aparentemente conseguiu”, diz o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo.