Ainda é comum, principalmente na urologia oncológica, que o paciente sequer fale o nome da doença. O tabu é tanto que o câncer é chamado de “a doença” ou “esse destino”. E o local acometido, a próstata, passa a ser referido como “lá”.
O assunto é tão cheio de tabus e palavras não ditas que o único prejudicado é o homem.
O primeiro tabu a ser derrubado é o de que “quem procura, acha”. Muitos homens não vão ao médico por receio de receberem um diagnóstico. Isso não faz nenhum sentido, pois é exatamente a detecção precoce do câncer de próstata que mais salva vidas.
A cada ano que passa, maior é a probabilidade de que a doença surja, uma vez que ela responde por 30% de todos os cânceres (exceto pele não-melanoma) diagnosticados entre homens.
O diagnóstico precoce garante não apenas uma maior chance de cura, como também mais qualidade de vida, uma vez que o tratamento será menos invasivo e menos tóxico. Em alguns casos, apenas a vigilância do tumor é suficiente por alguns anos, sem necessidade de cirurgia ou radioterapia por longo prazo.
Fertilidade e potência
No quesito sexualidade, dois temas são essenciais de se conversar com seu médico. A fertilidade e a potência.
No primeiro, é preciso esclarecer, sim, alguns dos tratamentos tem probabilidade de afetar a capacidade de ter filhos. Se o homem em questão ainda tem o desejo de ser pai ou considera essa possibilidade, aconselhamos uma coleta de sêmen para uma futura fertilização in vitro.
Neste ponto, como em tantos outros, é importantíssimo conversar com sua companheira ou companheiro. Ao não falar sobre isso, o casal não se permite pensar na vida após o tratamento. E sim, ela existe.
Por outro lado, a capacidade de ter relações sexuais após cirurgias para câncer de próstata e outros tumores pélvicos pode ser mantida com modernas técnicas de cirurgias minimamente invasivas e de reabilitação pós-intervenções. Existem grandes chances de recuperação total e muitas abordagens possíveis, embora o prazo possa chegar a 18 meses.
Importante dizer que a reabilitação tem como objetivo retornar o vigor ao que o paciente tinha anteriormente à intervenção, então não dá para ter a ilusão de que é possível voltar aos 20 anos, por exemplo. Às vezes, quando os pacientes recebem tratamento hormonal, a libido se reduz significativamente.
Em geral, iniciamos os tratamentos com drogas orais para ereção. Se estas não surtem efeito, podemos empregar tratamentos específicos, como injeções medicamentosas no interior do corpo cavernosos do pênis, em pequenas quantidades, prévia à prática sexual.
E, se ainda assim não houver sucesso ou a adaptação for difícil, existe a possibilidade de uma prótese peniana, uma solução mais definitiva, que além de imperceptível, permite o controle da ereção em qualquer momento, mantendo a espontaneidade do encontro afetivo.
Apoio psicológico, com profissional especializado também é fundamental nessa jornada. Da mesma maneira que cada paciente terá um tratamento único para sua cura, a trilha da recuperação também se faz de forma única.
Em todos os casos, ter uma rede de apoio, principalmente do par amoroso, é imprescindível para um caminho o mais suave possível. O ideal é que completemos a jornada com saúde, qualidade de vida e felicidade.
* Stênio Zequi, urologista e oncologista, líder do Centro de Referência em Tumores Urológicos do A.C.Cancer Center