O espetáculo “Sra. Klein” chega à capital em curta temporada no Teatro Unip, neste sábado (23) e domingo (24), protagonizado por Ana Beatriz Nogueira, Natália Lage e Kika Kalache. A peça traz um recorte de um dia intenso em 1934 sobre os dramas familiares da psicanalista austríaca Melanie Klein, interpretada por Nogueira.
O enredo da trama retrata a relação tóxica entre mãe e filha, e como as personagens precisam conviver com a morte de Hans, o filho mais novo da família. As histórias familiares da psicanalista austríaca Melanie Klein (1882-1960) já foram encenadas no Brasil duas vezes — nos anos 1990, com Ana Lúcia Torre, e em 2003, com Nathália Timberg à frente do elenco. Por se tratar de uma pessoa tão complexa, Ana Beatriz fez uma grande imersão na vida pessoal e profissional de Melanie.
“Começamos o projeto antes da pandemia, fomos atropelados por ela, e levei quase três anos para finalmente conseguirmos montá-lo. Nesse período, li muito sobre Melanie e seu trabalho. Passei muito tempo mesmo estudando, mas depois deixei de lado todas as referências. Abandonei tudo e comecei a ensaiar, cena a cena, sem pretensões. Sempre fiz análise, acho que desde os 16, 17 anos. É uma peça sobre como lidar com a vida e os lutos que fazemos em vida, o luto das crenças, certezas, oferece a possibilidade de você reviver coisas de outro modo”, conta em entrevista exclusiva ao JBr.
Com texto de Nicholas Wright e direção de Victor Garcia Peralta, a nova encenação expõe uma versão da psicanalista como uma mãe muitas vezes cruel, inteligentíssima e prática.
“Esses embates familiares permeiam a vida de todos nós, histórias de mães e seus filhos… O romance familiar nunca sai de moda. A discussão é boa e profunda. A Melitta, personagem de Natália Lage, é muito ressentida com a mãe, porque foi usada junto ao irmão mais novo como “cobaia” para que Melanie desenvolvesse suas teorias sobre a psicanálise infantil. Dá muito pano para manga a história”, comenta a atriz.
O luto, a complexidade humana e o ressentimento estão presentes no recorte da nova montagem. Klein, uma mulher singular e à frente de seu tempo, torna-se um sonho para qualquer atriz que quer se aprofundar ao máximo na atuação.
“Melanie Klein foi uma mulher muito à frente de seu tempo. Já era divorciada nos anos 1930, teve um protagonismo inédito como mulher no meio da psicanálise naqueles anos. É muito interessante interpretá-la. Quando assisti à versão com Dona Nathalia Timberg, há 20 anos, desejei fazer a peça quando estivesse mais madura como atriz. Lembro-me de ter pensado: quando chegar a idade certa, vou comprar os direitos dessa peça. E aqui estamos”, declara Ana Beatriz.
O texto de Wright traz muitas referências teóricas com conceitos dos mais simples aos mais densos, como seio-mau e seio-bom, originários de Klein. Obviamente, isso não prejudica a compreensão da plateia, muito menos a qualidade técnica da peça.
“A peça é um recorte de um dia na vida de Melanie Klein em 1934. Ela acaba de receber a notícia do falecimento de Hans, seu filho. Existe muito mistério em torno desse evento e Melanie e Melitta, sua filha, que segue outra linha psicanalítica, têm um grande embate. Apesar de a natureza humana ser complexa, a forma como a psicanálise é abordada na peça é de fácil acesso para a plateia. O texto tem muita ironia e um humor ácido que provoca também o riso”, explica.
Ana Beatriz Nogueira se destaca na televisão com personagens que são facilmente amadas ou odiadas pelos espectadores, no teatro passa por uma personagem complexa e incisiva. A atriz declara que não gosta de ficar parada e comenta os próximos projetos.
“Como costumo dizer, eu tenho folgafobia. Não consigo ficar parada. No momento, vamos seguir em turnê com a peça, que chega em maio a São Paulo para dois meses de temporada no Teatro Bravos. E, no segundo semestre, vou fazer outro projeto em teatro que ainda não posso dar muitos detalhes. É uma peça para dois atores, um drama familiar, que espero também trazer aqui para Brasília”, declara.
Serviço
Sra. Klien
Onde: Teatro Unip – SGAS 913 – Asa Sul Quando: dias 23 e 24 de março, sábado, às 17h30 e às 20h, e domingo, às 17h e às 19h30 Ingressos: disponíveis pelo site Sympla
Texto: Nicholas Wright;
Direção: Victor Garcia Peralta; Elenco: Ana Beatriz Nogueira, Natália Lage e Kika Kalache;