Infelizmente, a incidência de câncer tem aumentado no mundo todo. Em 2040, estima-se que teremos 28 milhões de casos novos. Neste ano, aqui no Brasil, serão cerca de 760 mil diagnósticos. Isso se deve a uma série de fatores, tais como o envelhecimento da população, aumento da obesidade, sedentarismo e alimentação baseada em produtos industrializados ultraprocessados, entre outros.
As pesquisas e as sociedades médicas recomendam, para a prevenção do câncer, uma alimentação equilibrada. Em resumo, é preciso maneirar no consumo de açúcar, sal, embutidos, carne vermelha e álcool. Por outro lado, recomenda-se investir em vegetais e mais fontes de fibras. Inclusive, existem estudos associando o consumo de frutas à redução de mortalidade no câncer.
Praticar regularmente atividade física, manter um índice de massa corporal abaixo de 30 kg/m2 e evitar o tabagismo são outros comportamentos que podem auxiliar na prevenção.
É fato ou fake?
Porém, dentro do universo da nutrição, ainda há muita desinformação e sugestões de alimentos para a melhora do prognóstico do câncer sem evidências científicas.
Uma das fake news mais divulgadas há alguns anos foi que o chá da folha da graviola poderia ajudar na cura de tumores. Contudo, apesar de a graviola ser uma fruta saudável, não existem estudos científicos demonstrando que o chá das suas folhas seja benéfico para o tratamento oncológico.
Por outro lado, com menos repercussão nas redes, mas com significância científica, estudos mostraram que o consumo diário de 5 gramas de amêndoas, avelãs, nozes, castanhas e amendoins apresenta propriedades anticarcinogênicas, anti-inflamatórias e antioxidantes, ajudando na prevenção dos cânceres de pulmão, cólon, mama, pâncreas e estômago.
Outros dados interessantes observados: o consumo regular de café foi cientificamente relacionado a um menor risco de câncer de fígado e de pele. Já a janaúba, um arbusto que produz látex, mostrou uma possível atividade anticâncer em estudos in vitro ou em animais, mas carece de resultados mais contundentes em humanos.
Microbioma, dietas restritivas e o risco do álcool
Uma série de pesquisas já mostrou que o microbioma, o conjunto de bactérias da nossa flora intestinal, é essencial na prevenção e também durante o tratamento do câncer. Quanto mais diverso o microbioma dos pacientes, melhor a resposta ao tratamento, principalmente à imunoterapia. Algumas bactérias, como a Akkermansia muciniphila, têm sido associadas a efeitos benéficos para o tumor de pulmão, mama e do trato gastrointestinal.
Um estilo de vida saudável beneficia uma flora considerada positiva contra o câncer. Além disso, especificamente o consumo diário de nozes tem a propriedade de aumentar a diversidade da nossa flora bacteriana, sendo importante na prevenção e no prognóstico da doença.
Embora exista muita informação na internet sobre o glúten e a lactose como culpados por causarem o câncer o agravarem a doença, não temos evidências científicas sobre esse tema, levando muitas vezes a uma dieta restritiva sem necessidade. Isso faz com que o paciente perca massa muscular e óssea, piorando, dessa forma, a sua resposta ao tratamento. Portanto, esses alimentos só devem ser retirados da dieta caso a pessoa tenha uma intolerância comprovada ao seu consumo.
Em relação a regimes anticâncer, não existe comprovação de que uma alimentação restritiva traga benefícios diretos ao tratamento. Uma das mais comentadas é a dieta cetogênica (com restrição severa de carboidratos), porém, já existem estudos científicos apontando que ela não melhora a sobrevida nem os resultados do tratamento na oncologia. Mesmo o jejum intermitente ainda não tem comprovação de benefícios em humanos, sendo a maioria dos estudos realizada em animais.
Devemos tomar cuidado com dietas muito restritivas, porque existe um consenso científico de que perdas acentuadas de peso e redução da massa muscular aumentam o risco de morte, os efeitos colaterais dos tratamentos e as suas complicações. Somado a isso, reduzem a sobrevida e a resposta ao tratamento oncológico.
Algo pouco falado é a relação do consumo de bebidas alcoólicas com o aparecimento do câncer. O álcool eleva o risco de mutações celulares e, nas mulheres, também interfere na via hormonal, aumentando a chance de câncer de mama. Segundo a Sociedade Americana de Oncologia (ASCO), não existe um consumo seguro de álcool em relação ao câncer. Portanto, ele deve ser evitado no dia a dia.
Enfim, temos muitas informações sobre nutrição e câncer na internet. Contudo, é importante verificar se essa informação tem respaldo científico, garantindo segurança e eficiência. Além disso, sempre pergunte para o seu médico se você pode fazer determinada dieta, comer este ou aquele nutriente ou praticar exercício, a fim de colher apenas os bons frutos dessas mudanças no estilo de vida.