Com 25 anos de carreira, Ícaro Silva, 37, é conhecido por participar de novelas, filmes e musicais de sucesso — em breve, vai estrear a série “Máscaras de Oxigênio (Não) Cairão Automaticamente”. Homem preto e LGBT, também é lembrado por opiniões que já geraram polêmicas.
Figura pública
Questionado se sempre quis ter “voz ativa” e ser militante em pautas raciais e da comunidade LGBT, ele disse que não. Diz que suas opiniões ressoam na mídia por ser “um corpo dissidente”.
Ser um preto viado faz as pessoas olharem para mim e incomoda muito. Pessoas que não estão acostumadas a me ver no mainstream, geralmente se chocam com a minha opinião… Não acho que eu seja um militante, que são aqueles que estudam e se dedicam para isso, eu sou um artista. A arte é política e atravessa a história da sociedade. Eu tô inserido na sociedade.
Ícaro Silva
Quando expõe uma opinião, ele não quer polemizar, mas esse é o “recorte midiático” que decidem fazer dele. “Faço várias coisas ao mesmo tempo, como os audiolivros do Harry Potter, as pessoas amam e isso é muito pouco falado. Tudo da minha voz que não possa causar polêmica é muito pouco falado.”
Ícaro reforça que suas opiniões fazem parte do seu trabalho e são ditas no palco ou para a câmera de uma gravação. “Sou um artista e gostaria que a minha opinião política e social estivesse no contexto do meu trabalho, não no da minha vida pessoal, porque não tenho interesse em dividir opiniões pessoais com o público. Acabo fazendo isso porque me perguntam.”
De qualquer forma, sou um corpo alvo. Então, vai haver uma polemização sobre o meu corpo. Nesse sentindo, acho importante destacar os ativistas de verdade, como Adjunior e Elisa Lucinda, uma poetisa e atriz que também se coloca como ativista.
Ícaro Silva
Série sobre aids
Na série “Máscaras de Oxigênio (Não) Cairão Automaticamente”, ele vive Raul, o segurança da boate Interno, um militante ferrenho. O personagem tem uma vida dupla, dividida entre bicos que exigem masculinidade e o desejo de subir aos palcos, montado de drag. Série foi gravada no primeiro trimestre, no Rio de Janeiro, e ainda não tem data de lançamento.
A história, baseada em fatos reais, conta a história de comissários de voos que contrabandeavam remédios contra aids para salvar vidas. Tudo começa quando Fernando (Johnny Massaro), um comissário de bordo que testa positivo para o HIV, tem a ideia de contrabandear AZT para uso próprio. É Raul quem pressiona Fernando a ampliar o contrabando para outros doentes e salvar vidas. Neste processo, os dois se aproximam e se apaixonam, vivendo um grande amor soro discordante.
Temática que conversa com um período sombrio da história brasileira e que a gente fala muito pouco. Série tem a missão de honrar o legado de todos os que partiram diante da omissão do Estado, do preconceito e do estigma que essa doença gerou com muita violência nos anos 80… Resgate do legado de muita gente, principalmente da comunidade LGBTQIAPN+, que talvez estivesse aqui hoje se não fosse o preconceito.
Ícaro Silva
Multiartista
Enquanto Ícaro espera a estreia da série no streaming, ele se apresenta no musical da Broadway “Cabaret”, em São Paulo, até 12 de maio. Aliás, é mais um espetáculo musical na carreira do artista, que se destacou recentemente em “Ícaro and the Black Stars” e promete outro projeto no segundo semestre. “Ainda não posso falar muito, mas é da Broadway também.”
Além de musicais, nos últimos anos, Ícaro tem se dedicado a projetos em diferentes plataformas. Em 2022, por exemplo, atuou na novela “Cara e Coragem” (Globo).
Gosto de ser um artista multimídia, de fazer diferentes tipos de performance. Claro que já sonhei em fazer carreira na televisão, mas hoje sonho mesmo é em chegar cada vez mais perto das pessoas. Quero contar histórias e isso pode ser em qualquer lugar: em um audiolivro, novela, teatro, série. Como diria Milton [Nascimento], ‘o artista vai onde o povo está’. É uma escolha que faço hoje. Tenho liberdade e conforto para escolher.
Ícaro Silva