Pesquisadores da Universidade de Genebra, na Suíça, identificaram a “voz” de Joan Shakespeare Hart, irmã de William Shakespeare, num documento historicamente atribuído ao pai deles, John Shakespeare. O “Testamento Espiritual”, encontrado na Casa Shakespeare, expressa devoção católica, uma heresia na Inglaterra elisabetana. Mas Joan o teria escrito num período menos perigoso para tais declarações, segundo a descoberta.
Para quem tem pressa:
Historiadores – entre eles, Matthew Steggle, da Universidade de Bristol, na Inglaterra – desafiaram a autoria tradicionalmente atribuída a John Shakespeare após a descoberta do documento em 1757. Steggle argumenta que Joan é a verdadeira autora, baseado na datação do texto e em referências que só poderiam ter sido incluídas após a morte de John.
Se você gostou desse post, não esqueça de compartilhar:
Joan Shakespeare, autora do ‘Testamento Espiritual’
O documento, copiado de um texto italiano posterior à morte de John Shakespeare, revela uma conexão com a fé católica num tempo em que a expressão religiosa estava em transição na Inglaterra. Isso indica que Joan, vivendo até 1646, poderia ter escrito o testamento durante a época mais tolerante, sob o reinado de James I.
Apenas sete documentos da época mencionam Joan, o que destaca a escassez de registros sobre mulheres da era elisabetana. Virginia Woolf, em seu ensaio “A irmã de Shakespeare“, refletiu sobre a invisibilidade histórica de mulheres como Joan, que teriam tido poucas oportunidades de deixar um legado escrito.
Steggle identificou semelhanças entre o “Testamento Espiritual” e um panfleto religioso de 1661, o que levou a questionamentos sobre a datação e autoria do documento. Pesquisas adicionais revelaram que o texto original apareceu em italiano em 1613, o que impossibilita que John Shakespeare fosse o autor.
Importância da reatribuição da autoria
Essa reatribuição de autoria não apenas resgata a voz de Joan, mas também desafia concepções históricas sobre as contribuições e visibilidade das mulheres da época. Woolf imaginou uma irmã literária para Shakespeare, cuja obra teria sido perdida ou destruída – e Joan parece se encaixar nessa narrativa de ocultação e redescoberta.
A descoberta, publicada no Shakespeare Quarterly, reforça a ideia de Woolf sobre as vozes femininas silenciadas na história e sugere que, apesar das convenções de gênero restritivas, Joan Shakespeare Hart deixou um registro significativo de sua fé e existência.