As empresas de tecnologia dos Estados Unidos passaram a dominar múltiplas faces do crescente mercado de inteligência artificial generativa, com participações de mercado de 70%, chegando a mais de 90%, dependendo do campo.
Os Estados Unidos estabeleceram uma presença expansiva no setor. O mercado local atingiu US$ 16,1 bilhões no ano passado, ou três vezes o da segunda colocada, a China. Espera-se que ultrapasse os US$65 bilhões em 2030 – um terço do total global – sublinhando o domínio dos players americanos.
A tecnologia de inteligência artificial generativa pode ser dividida em quatro níveis: aplicações voltadas para o consumidor; tecnologia fundamental, como grandes modelos de linguagem; infraestrutura em nuvem que sustenta os serviços; e semicondutores que são essenciais para desenvolvimento e operações.
Menos participantes tendem a estar envolvidos nos níveis mais profundos, sendo os semicondutores os mais exclusivos, maximizando os lucros que cada um obtém do mercado em crescimento.
O exemplo dessa dinâmica é a Nvidia, fabricante norte-americana de chips de inteligência artificial que possui a maior capitalização de mercado e receita entre as empresas globais de semicondutores.
Os servidores de data center fornecem o poder de computação para que a inteligência artificial aprenda com os dados e faça deduções. A computação paralela em grande escala com unidades de processamento gráfico, ou GPUs, é essencial para melhorar a precisão da inteligência artificial.
A Nvidia detém uma participação de 92% no mercado de GPUs para data centers, de acordo com a IoT Analytics, com sede na Alemanha. O concorrente americano Advanced Micro Devices está com apenas 3%.
A força da Nvidia não reside apenas no desempenho dos semicondutores, mas também no software. Cuda, sua plataforma de desenvolvimento lançada em 2006, é usada há muito tempo para inteligência artificial e agora está espalhada por mais de 4 milhões de desenvolvedores.
As empresas norte-americanas também são grandes compradoras de GPUs, e a Meta, controladora do Facebook, é um player líder. O CEO da Meta, Mark Zuckerberg, disse que sua empresa está “construindo uma quantidade enorme de infraestrutura” que incluirá 350 mil placas gráficas GPU H100 a serem entregues pela Nvidia até o fim deste ano.
Em comparação, uma empresa japonesa, por exemplo, normalmente adquiriria centenas ou milhares de GPUs em um pedido de grande quantidade.
As empresas dos Estados Unidos também dominam a infraestrutura em nuvem: Amazon, Microsoft e Google controlam dois terços do mercado global. Somando-se IBM e Oracle, o total vai acima de 70%. À medida que a transformação digital global impulsionada pela inteligência artificial avança, mais dinheiro flui para estas empresas.
As empresas de tecnologia dos Estados Unidos detêm uma participação de mais de 80% em grandes modelos de linguagem e outras tecnologias e serviços que sustentam a inteligência artificial generativa. O desenvolvedor do ChatGPT, OpenAI, e a Microsoft, formaram uma parceria poderosa neste campo. Amazon e Google também estão ativos nesta área.
Os aplicativos voltados para o consumidor vêm em uma ampla variedade de formatos, o que complica comparações simples entre concorrentes. Mas quando limitado a ferramentas básicas de geração de texto, o ChatGPT detinha 72% da base de usuários em novembro de 2023, de acordo com o Statista. Para ferramentas de geração de imagens de inteligência artificial, a Midjourney, com sede nos Estados Unidos, detinha uma participação de 53%.
Alguns analistas dizem que a inteligência artificial será fundamental para promover a produtividade e o crescimento dos negócios. A inteligência artificial generativa poderia acrescentar entre US$ 2,6 trilhões e US$ 4,4 trilhões à economia global por ano, de acordo com estimativas da McKinsey & Co.
Para ilustrar a escala, a McKinsey compara este valor com o produto interno bruto (PIB) do Reino Unido, que é pouco mais de US$ 3 trilhões.
Alguns governos estão agindo para contrariar o domínio dos Estados Unidos no desenvolvimento e tecnologia da inteligência artificial.
O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, disse a repórteres este mês que Pequim apresentará “no devido tempo” um projeto de resolução sobre “melhorar a cooperação internacional na capacitação de inteligência artificial” à Assembleia Geral das Nações Unidas.
Esta medida “incentivará o compartilhamento de tecnologia entre as partes, reduzirá a divisão da inteligência artificial e não deixará ninguém para trás”, disse Wang.
As empresas japonesas estão implementando tecnologia de inteligência artificial, mas grande parte dela vem de fornecedores norte-americanos. Embora os dois países sejam aliados, esse nível de dependência ainda tem implicações de segurança e também apresenta riscos se as especificações forem alteradas repentinamente.