O psiquiatra John Winkelman costumava se referir à síndrome das pernas inquietas (SPI) como o Rodney Dangerfield da medicina — já que, como o falecido comediante afirmou sobre si mesmo, o distúrbio “não era respeitado”.
A SPI foi descrita pela primeira vez no século XVII, mas por muito tempo as sensações assustadoras e, às vezes, dolorosas que a caracterizam — e que geralmente são piores durante o repouso — foram descartadas como uma neurose bizarra. Mesmo duas décadas atrás, a SPI ainda era chamada de “o distúrbio do sono mais comum do qual você nunca ouviu falar”, lembra Winkelman, professor de psiquiatria no Departamento de Medicina do Sono da Escola de Medicina de Harvard.
Mas, agora, mais pessoas entendem a SPI, que afeta duas vezes mais mulheres do que homens. O que também está evoluindo é a abordagem das terapias, buscando proteger o sono e a sanidade dos pacientes dos sintomas implacáveis do distúrbio.
Em março de 2024, a Academia Americana de Medicina do Sono (AASM) elaborou novas diretrizes para o tratamento clínico de SPI após mais de dez anos.
Entre os destaques do documento está a recomendação de evitar o uso de medicamentos que aumentam a dopamina no cérebro — há muito tempo um elemento básico do tratamento da SPI. Pesquisas mais recentes revelaram que esses medicamentos geralmente pioram os sintomas da síndrome após um uso prolongado.
“Os pacientes costumavam me enviar flores e chocolates quando eu prescrevia esses medicamentos”, diz Winkelman, que presidiu o comitê da AASM que elaborou as novas diretrizes. “Mas ficou claro que esses remédios estavam piorando as coisas.”
Fatores de risco
Até 10% dos americanos lidam com a SPI, de acordo com os Institutos Nacionais de Saúde, e cerca de um quarto deles experimenta sintomas perturbadores pelo menos duas vezes por semana.
As causas da síndrome ainda são obscuras, mas certos fatores aumentam as chances de desenvolver o transtorno:
A síndrome das pernas inquietas é mais comum — e os sintomas são mais graves — após os 50 anos.
Evidências sugerem que a SPI é hereditária, com a genética representando cerca de 20% do risco de uma pessoa desenvolver o quadro.
A SPI pode ocorrer a partir de níveis muito baixos de ferro, o que é mais provável em mulheres devido aos períodos menstruais ou a condições que levam a sangramento intenso, como miomas e endometriose.
Há também pessoas com níveis normais de ferro, porém com um problema de transporte. Nesses casos, o corpo não “empurra” o ferro para as células cerebrais conforme necessário.
Cerca de um quarto das mulheres terá SPI durante a gravidez, geralmente no segundo ou terceiro trimestre.
Dicas para o teste de ferro
Se o médico suspeitar que a deficiência de ferro pode estar contribuindo para sua SPI, é sensato procurar exames de sangue detalhados, orienta Winkelman. Certifique-se de que o médico não esteja avaliando apenas a ferritina — uma proteína que contém ferro —, mas também o ferro e sua capacidade total de ligação.
Além disso, diz o psiquiatra, é interessante tomar certos cuidados antes de realizar os exames. Winkelman sugere não tomar nenhuma vitamina que contenha ferro e não ingerir carne vermelha por dois dias, e só então colher as amostras, preferencialmente pela manhã.
Novas abordagens
A menos que você tenha tido SPI durante a gravidez e os sintomas tenham desaparecido após o parto, a condição geralmente é para a vida toda. Mas isso não significa que você não possa encontrar alívio.
Alguns tratamentos são considerados essenciais:
Comprimidos orais de ferro são recomendados para pessoas com níveis abaixo do ideal. Para aqueles cujos níveis são considerados “normais”, mas o corpo não transporta o ferro de maneira eficiente para o cérebro, pode ser prescrita a terapia intravenosa de ferro.
Esses medicamentos incluem gabapentina e pregabalina.
Outras terapias que surgiram nos últimos anos ou devem ser usadas com moderação englobam:
- Terapia de estimulação elétrica
Pacientes que usam essa opção colocam aparelhos de estimulação elétrica nervosa transcutânea (conhecidos como Tens) abaixo dos joelhos. Esses equipamentos liberam uma corrente suave através da pele e dos músculos, interrompendo sinais nervosos anormais.
- Opioides de ação prolongada e baixa dosagem
Essa categoria inclui metadona e buprenorfina. Elas são usadas em doses extremamente baixas, apenas em pessoas com PSI grave.
- Medicamentos que aumentam a dopamina
Considerados por muito tempo o tratamento de primeira linha para PSI, esses medicamentos — incluindo carbidopa/levodopa, pramipexol, ropinirol e o adesivo cutâneo rotigotina — agora devem ser prescritos apenas para aqueles para os quais outras terapias não funcionam.
“Eles pioram a SPI de uma forma muito particular — os sintomas começam cada vez mais cedo no dia e podem ir das pernas para os braços e, às vezes, para a parte superior do tronco também”, diz Winkelman. “Para a maioria das pessoas com SPI, não recomendamos esses medicamentos, a menos que nada mais esteja funcionando.”
Nota: este conteúdo, independentemente da data, não deve ser usado como substituto da orientação direta de seu médico ou de outro profissional qualificado.
Este texto foi originalmente publicado em Harvard Health Publishing. Ele foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado por nossa equipe editorial. Saiba mais em nossa Política de IA