“A gente aprendeu a pegar a água da chuva e filtrar”, diz Francidalva Farias, moradora de Filadélfia, enquanto mostra uma mangueira improvisada que liga a calha do telhado de sua casa a uma cisterna tapada por um cobertor no quintal. Quase todas as casas do Bailique têm três tanques de água: um com água salgada, que é usada para tomar banho e lavar louça, e dois com água doce, usada para beber e cozinhar.
Segundo Francidalva, “a gente aprendeu a pegar a água da chuva e filtrar”. “Quando a sujeira assenta, a gente passa para a segunda [cisterna], que usamos para beber e cozinhar. A água está cada vez mais salgada. Se não chover, não temos água para beber.”
Caminhando pela sua comunidade, constituída por uma dúzia de casas de madeira esparsas conectadas por passarelas de madeira, Francidalva diz que nunca tinha visto tantas mudanças ao mesmo tempo na região, que agora depende muito de suprimentos externos.
Em dezembro, apenas pequenos barcos conseguiam navegar, durante algumas horas por dia, até chegar à comunidade. Devido ao calor acima da média registrado nos últimos invernos, quando a chuva era escassa, as vespas se tornaram mais agressivas, picando os moradores com mais frequência e se multiplicando mais rapidamente, a ponto de formarem várias colônias na escola da comunidade.
“Ir para a escola está perigoso [por causa das vespas]. E temos que economizar o máximo de água potável que pudermos. Tomamos banho com água salgada, que dá coceira. Nas crianças chega a dar queimadura leve. Usamos ela também para lavar louça e as roupas, que tem que secar logo senão fica com cheiro ruim. O sabão não faz espuma como na água doce, é esquisito”, conta Francidalva.