As negociações entre Israel e o Hamas sobre um acordo para libertação de reféns e cessar-fogo na Faixa de Gaza chegaram a outro impasse, mas não terminaram, segundo três pessoas familiarizadas com as conversas.
Um diplomata descreveu as negociações como “travadas, mas em andamento”, dizendo que continua havendo “propostas indo e voltando”. Uma segunda fonte confirmou que as partes ainda estão envolvidas, mas ressaltou que as negociações estão em “pausa”.
Não houve qualquer avanço depois que o diretor da CIA — a agência de inteligência dos Estados Unidos –, Bill Burns, viajou para Doha, no Catar, no final da semana passada para se reunir com homólogos israelenses, egípcios e catariano.
Burns apresentou uma proposta que foi aceita por Israel e enviada de volta ao Hamas, disse a segunda fonte e uma autoridade israelense à CNN.
Na terça-feira de manhã, Israel foi informado de que a proposta foi rejeitada pelo Hamas, segundo a autoridade israelense, e o governo decidiu retirar a equipe de negociadores que estava em Doha depois de Burns e o chefe da Mossad de Israel, David Barnea, terem deixado o Catar.
“As negociações não se concentram apenas no acordo de troca de prisioneiros”, pontuou Basem Naeim, integrante de alta patente do Hamas, à CNN na segunda-feira.
“Israel não concordou com nenhum dos pedidos [do Hamas] relacionados a um cessar-fogo completo, a retirada de todas as forças da Faixa de Gaza, mesmo em etapas, e a volta de todas as pessoas deslocadas às suas casas”, explicou.
Nas últimas negociações, Israel concordou em libertar cerca de 700 prisioneiros palestinos – incluindo muitos com penas de prisão perpétua – em troca de 40 reféns israelenses mantidos em Gaza, destacaram a autoridade israelense e a fonte familiarizada com as discussões.
Essas libertações ocorreriam durante a primeira fase de um cessar-fogo, que deve durar cerca de seis semanas.
Mas outros pontos importantes de discussão, apenas para a primeira fase, ainda estão sendo debatidos: a possibilidade de os habitantes de Gaza no sul voltarem às casas no norte; aumento da ajuda humanitária para Gaza; e a localização das tropas israelenses”.
O Hamas tem adotado regularmente uma abordagem mais ampla ao que se espera ser um acordo de três fases, exigindo eventuais discussões sobre o fim da guerra e a retirada total das tropas das Forças de Defesa de Israel (FDI) de Gaza.
Israel se recusou a se envolver em qualquer um dos pontos, insistindo na necessidade de continuar os esforços para desmantelar o grupo armado.
A autoridade israelense disse que o Hamas não debateu sua última oferta de que cerca de 2 mil palestinos pudessem voltar ao norte por dia, afirmando em vez disso que todos os deslocados de Gaza deveriam poder regressar.
O grupo armado argumentou novamente que todas as tropas das FDI deveriam deixar Gaza, inclusive a partir da nova estrada de controle que Israel construiu, que atravessa o meio do território palestino.
O Conselho de Segurança Nacional recusou um pedido de comentário nesta quarta-feira (27).
Autoridades americanas disseram nesta semana que houve progressos durante as negociações do fim de semana em Doha.
O processo é complexo e lento, argumentou uma autoridade dos EUA, em parte porque os negociadores do Hamas precisam de obter respostas do chefe do grupo em Gaza, Yahya Sinwar, que se acredita estar algures no vasto sistema de túneis subterrâneos.
Na terça-feira, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, criticou o argumento do gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de que o Hamas rejeitou a proposta de cessar-fogo americana à luz da aprovação pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas de uma resolução apelando a um cessar-fogo imediato, que os EUA não vetaram.
“Essa declaração é imprecisa em quase todos os aspectos e é injusta para com os reféns e suas famílias”, advertiu Miller.
A incapacidade de alcançar um cessar-fogo poderá acelerar os planos de Israel de lançar uma ofensiva terrestre em grande escala na cidade de Rafah, no sul de Gaza.
Os EUA alertaram repetidamente Israel contra uma operação sem um plano coerente para a segurança dos 1,4 milhão de palestinos ali abrigados, algo que a administração Biden diz não ter ouvido do país aliado.
O ministro da defesa de Israel, Yoav Gallant, visitou Washington nesta semana para uma série de reuniões com altos funcionários da segurança nacional de Biden, incluindo uma reunião não anunciada com o diretor da CIA na noite de terça-feira.
Os funcionários de alta patente dos EUA e Gallant não chegaram a nenhum acordo sobre como Israel avançará com uma operação em Rafah, no sul de Gaza, afirmaram autoridades dos EUA e de Israel à CNN.
Gallant foi informado de que Israel precisa encontrar uma opção “alternativa” para um grande ataque a Rafah.
Autoridades israelenses destacaram que Gallant estava aberto às recomendações dos EUA sobre como proceder com um ataque ao Hamas em Rafah, mas, em última análise, as autoridades israelenses disseram que executarão o plano que consideram necessário para eliminar os cinco batalhões restantes do Hamas na área.
*Natasha Bertrand, da CNN, contribuiu para esta reportagem