No BBB, a atriz Vitória Strada revelou uma preocupação com a sua saúde: ela está há cerca de uma semana sem conseguir evacuar. Desde a sua entrada no reality show, ela só conseguiu defecar uma vez. Segundo a participante, o incômodo já a fez pedir atendimento médico do programa, mas o tratamento sugerido não teve sucesso.
Ela também revelou aos colegas de confinamento que já vivenciava situações semelhantes antes de entrar na casa: “O meu intestino já era ‘ruim’ lá fora (do programa)”, desabafou.
O quadro de Vitória não é um caso isolado. Como mostrado pelo Estadão, de acordo com a Federação Brasileira de Gastrologia (FBG), a constipação, também chamada de prisão de ventre, afeta de 15% a 20% da população brasileira, sendo mais comum em mulheres e pessoas acima dos 65 anos.
O que causa a constipação?
As causas para a prisão de ventre podem ser diversas. Mas as mais comuns costumam ser alterações na alimentação, como consumo insuficiente de água ou baixa ingestão de legumes, verduras e frutas, segundo Tiago Ghezzi, chefe do Serviço de Coloproctologia do Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre (RS).
Além disso, alguns medicamentos também podem ter como efeito colateral a constipação, bem como algumas doenças metabólicas, como diabetes e hipotireodismo. Ainda, quadros mais graves, como tumores intestinais, podem manifestar-se com prisão de ventre, embora sejam menos comuns.
Vanessa Prado, gastroenterologista do Hospital Nove de Julho, em São Paulo, explica que as emoções, como o estresse, têm um grande poder de afetar o ritmo intestinal. Alterações da qualidade do sono e mudanças de rotina também fazem diferença.
“Não é só o fator físico, mas também o psicológico. O intestino está totalmente relacionado ao cérebro”, ressalta a médica.
Quais os riscos?
Segundo Ghezzi, um risco importante é desenvolver um quadro chamado fecaloma, quando as fezes retidas se enrijecem (ou “empedram”) e se tornam difíceis de serem eliminadas. Isso pode exigir intervenções como lavagens ou enemas.
A condição se torna preocupante quando as pessoas passam de 10 a 20 dias sem evacuar, levando a sintomas como inchaço na barriga e dor.
Quem tem constipação de forma crônica também precisa de uma atenção especial. Ou seja, se a situação se repete por meses e impacta a qualidade de vida é preciso buscar apoio de um médico.
Outra preocupação é se o indivíduo apresentar vômito, que é um sinal de parada do movimento de todo o aparelho digestivo, segundo Vanessa. “Se não está saindo cocô, não dá para entrar alimento e você acaba vomitando”, explica.
Ghezzi explica ainda que evacuar menos do que três vezes por semana já é considerada uma frequência abaixo do normal. Já passar sete dias sem ir ao banheiro é um período tido como muito longo, passível de provocar o fecaloma.
Problemas para o corpo inteiro
De acordo com um estudo do Instituto de Biologia de Sistemas (ISB), nos Estados Unidos, publicado no ano passado, a frequência com que uma pessoa evacua pode melhorar (ou piorar) a sua saúde por completo.
Por isso, segundo a análise, o ideal para a saúde a longo prazo é fazer as necessidades uma ou duas vezes por dia. Do contrário, o acúmulo de fezes no intestino por um período prolongado leva ao consumo total da fibra alimentar pelas bactérias, o que pode desencadear uma série de problemas para o corpo.
Isso porque a fermentação das fibras, com ajuda dos micro-organismos, gera ácidos graxos que são benéficos para a saúde. No entanto, o consumo total delas, e sua consequente escassez, leva as bactérias a buscarem outras fontes de energia, como proteínas. Por sua vez, a fermentação de proteínas pelas bactérias produz toxinas que podem ser absorvidas pelo sangue e causar problemas de saúde.
Alterações na saúde intestinal estão associadas a questões como inflamação, saúde do coração, e função do fígado e dos rins. Por exemplo, no estudo, especificamente, subprodutos da fermentação de proteínas, conhecidos por causar danos à função renal, como sulfato de p-cresol e sulfato de indoxil, se mostraram presentes no sangue de pessoas que relataram constipação.
Além disso, a ‘prisão de ventre’ crônica tem sido associada a distúrbios neurodegenerativos e à progressão da doença renal crônica em pacientes com doença ativas, segundo Sean Gibbons, um dos autores do artigo, em comunicado.
“No entanto, não está claro se as anomalias do movimento intestinal são ou não causas precoces de doenças crónicas e danos nos órgãos […] ou são apenas uma coincidência”, afirmou o pesquisador, também em nota.
O que fazer?
De acordo com Vanessa, quando uma pessoa passa de 10 a 12 dias sem evacuar, ela precisa ser examinada. É necessário, segundo a médica, realizar um exame de toque retal para verificar se não há fezes endurecidas.
A partir daí, deve ser realizada uma lavagem ou, em muitos casos, o uso de supositório de glicerina, para resolver o quadro.
Se necessário, medicamentos podem ser recomendados para fazer uma limpeza intestinal. “Além disso, a orientação é ingerir bastante líquido, fazer esportes e comer mais fibras”, diz.
O segredo dos que evacuam com facilidade
A chave para entrar na zona ideal também foi sugerida naquele estudo americano. Não é de surpreender, mas, na pesquisa, aqueles que relataram seguir uma dieta rica em fibras, hidratar-se adequadamente e praticar exercícios regulares tenderam a alcançar o número ideal de idas ao banheiro.
Aqueles com maior ingestão semanal de lanches se mostraram mais propensos a estar na categoria de frequência de evacuação baixo-normal, e aqueles com maior ingestão semanal de vegetais e ingestão semanal de frutas eram mais propensos a estar na categoria de alto-normal.
O segredo se estende para a realidade brasileira e é aconselhado pelos médicos. O gastroenterologista e hepatologista Mario Kondo, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, diz que o caminho para garantir um bom trânsito intestinal é um: “Água, atividade física, fibras e bons hábitos”, reitera.
Gibbons destacou a importância da regularidade ao fazer cocô e dos dados da pesquisa, observando: “No geral, esse estudo mostra como a frequência das evacuações pode influenciar todos os sistemas do corpo e como pode ser um importante fator de risco no desenvolvimento de doenças crônicas”, disse.
Kondo explica que, nos últimos anos, a possibilidade de analisar a microbiota, antigamente chamada de “flora intestinal”, tem trazido novos horizontes a respeito das interações entre o intestino e a saúde em geral.