Comerciantes e moradores da região central de São Paulo, nas proximidades do Mercado Municipal, estão sem energia elétrica desde a tarde de quinta-feira (4). O problema começou com oscilação na eletricidade e depois a interrupção foi geral.
A Enel afirmou que cabos da rede subterrânea foram furtados após falha em um equipamento.
A nova falta de energia acontece após a região central enfrentar dias de desabastecimento, com perda de mercadorias, sumiço dos clientes, e moradores que não conseguiam trabalhar de casa. A região da 25 de Março, Bela Vista, Consolação, Higienópolis, Campos Elíseos, entre outros, foram as mais afetadas no mês de março.
O icônico edifício Copan, na região central, também sofreu com falta de energia por dias seguidos. Diversos pacientes, inclusive de outras regiões do estado, perderam consultas e procedimentos porque a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo também foi impactada pela falta de energia.
Após as ocorrências, ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira afirmou que o governo quer criar regras mais rígidas para as concessões de energia elétrica, antecipar a renovação de quem já puder cumprir as novas normas e barrar a extensão daquelas que não aderirem a tais normas o que pode impactar o caso da Enel.
Os comerciantes da região central de São Paulo reclamam de prejuízos com a nova falta de energia.
“A gente não consegue atender os clientes, pois nosso sistema é totalmente online. Isso dificulta muito e está nos gerando um prejuízo imenso”, disse Samuel Cardoso, funcionário de uma loja de informática e acessórios.
A loja está às escuras e teve de colocar uma barreira na entrada, indicando aos clientes que apesar de estar com as portas abertas, o atendimento não pode ser realizado.
Na região, diversos estabelecimentos estão com as portas fechadas e os funcionários do lado de fora, na expectativa de o fornecimento ser restabelecido.
Funcionários de boxes do Mercadão ouvidos pela “Folha de S.Paulo” afirmam que há energia na local, mas não sabem se há geradores abastecendo o prédio. A assessoria do Mercado Municipal foi acionada nesta manhã, mas não havia se manifestado até a publicação deste texto.
As lojas que estão funcionando normalmente são aquelas que contrataram geradores para manter as portas abertas.
Esse é o caso do mercado Bella Calabria, por exemplo. Um funcionário disse à “Folha de S.Paulo” que também estão sem energia desde a tarde de ontem, mas decidiram investir no aluguel de um gerador para o prejuízo não ser maior com as portas fechadas e até com mercadorias estragadas.
Questionada, a Enel afirmou que segue trabalhando no local para restabelecer a energia para os clientes impactados.
“Um furto de cabos na rede subterrânea impossibilitou que fossem realizadas manobras automáticas na rede após a falha em um equipamento, causando a interrupção no fornecimento de energia. A companhia trabalha para restabelecer o fornecimento no menor prazo possível”, afirmou a companhia.
O Procon de São Paulo anunciou nesta quinta-feira (4) que aplicou mais uma multa à Enel pelas falhas no fornecimento de energia na região central da capital paulista, por cobranças indevidas e por não ter respondido uma notificação anterior do órgão de defesa do consumidor.
O valor total da nova multa aplicada é de R$ 12.914.591,84.
Dentre as infrações listadas, a mais destacada pelo Procon-SP foi a falta de fornecimento de energia para a Santa Casa, no bairro de Vila Buarque, no dia 18 de março “tanto pela rede normal quanto por geradores, que demoraram muito para serem acionados”.
Outras falhas constatadas pela fiscalização do órgão são interrupções na região da rua 25 de Março e em outros endereços nos bairros de Higienópolis e Santa Cecília. Além disso, também foram citadas cobranças indevidas, problemas no serviço de atendimento ao cliente e falta de respostas à notificação anteriormente enviada à empresa.
Procurada pela reportagem, a empresa respondeu apenas que “foi notificada pelo Procon e irá responder no prazo estabelecido”.
Somando-se todas as sanções aplicadas à Enel, o valor supera R$ 700 milhões em multas e compensações financeiras por falhas nos serviços desde 2018, uma média de R$ 100 milhões em punições por ano.
Em novembro do ano passado, uma tempestade deixou cerca de 11 mil imóveis sem energia por seis dias seguidos. No total, o apagão atingiu 2,1 milhões de clientes da Enel em 24 cidades da região metropolitana e a companhia também foi multada.
Na ocasião, vereadores da Câmara Municipal de São Paulo também aprovaram a abertura de uma CPI para investigar a prestação de serviço da Enel na cidade. Isso ocorre apesar de a concessão dos serviços de distribuição de energia ser federal e regulada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).