O cenário para a indústria siderúrgica segue desafiador, com a entrada de aço importado em volumes muito superiores à média histórica e pressão da desvalorização do real frente ao dólar na linha de custos, de acordo com o presidente da Usiminas, Marcelo Chara. A companhia divulgou nesta sexta-feira (26) resultados do segundo trimestre, que vieram piores do que o esperado, e a indicação de que esse ambiente pode se manter no trimestre em curso levou à queda acentuada das ações na B3. Nesta tarde, os papéis recuavam 18,36%, negociados a R$ 6,78, na maior baixa do Ibovespa.
Conforme Chara, a forte pressão dos custos das matérias-primas está levando à necessidade de revisão dos preços praticados pela siderúrgica. Do lado dos preços internacionais, a maior oferta de aço chinês segue exercendo pressão globalmente. “Todos os mercados estão se defendendo ante práticas de comércio desleal”, disse, acrescentando que a adoção de cotas de importação pelo Brasil, a partir de junho, ainda não surtiu efeito.
No primeiro semestre, o volume de aços planos importados que entrou no país foi 24% maior do que o visto no mesmo período de 2023, contribuindo para elevar a 21% a taxa de penetração das importações de aço no mercado brasileiro. “No primeiro mês das cotas, entraram 233 mil toneladas de aços planos, o que é superior à medida mensal de 2023”, comentou.
Além das siderúrgicas, seguiu Chara, seus clientes também estão sofrendo com o avanço das importações, caso da indústria automotiva, que assistiu a uma elevação de 38% no número de veículos importados que foram emplacados nos seis primeiros meses do ano.
Já a demanda de aços planos permanece aquecida, com crescimento de 6% a 7% no segundo trimestre frente ao primeiro trimestre, e a expectativa é positiva para os próximos meses, com a melhora da atividade econômica. Para o terceiro trimestre, os volumes do mercado interno devem acompanhar o maior nível de atividade. As exportações, por sua vez, seguem prejudicadas pela queda das margens.
O vice-presidente de finanças e de relações com investidores da empresa, Thiago Rodrigues, afirmou ainda que, mantido o nível atual de câmbio, acima de R$ 5,50 por dólar americano, não há garantia de que a melhora de eficiência da siderúrgica, com a estabilização operacional do alto-forno 3 de Ipatinga (MG), será suficiente para compensar a pressão nos custos do terceiro trimestre. De acordo com o executivo, a variação do câmbio tem efeito em cerca de 60% do custo.
Marcelo Chara complementou que, em junho, atingiu um nível de operação no alto-forno 3 bem mais alinhado com o esperado. “No segundo semestre, independentemente da flutuação cambial, haverá melhora contínua de eficiência e vamos capitalizar isso”, reiterou. A siderúrgica investiu R$ 2,7 bilhões para modernizar o alto-forno 3, que retomou as operações em janeiro.
Preços para as montadoras
De acordo com o vice-presidente comercial da Usiminas, Miguel Homes, a siderúrgica manterá inalterados os preços acertados em contrato com as montadoras neste terceiro trimestre, mas aplicará reajustes nas vendas às demais indústrias e na distribuição, repassando parte do aumento dos custos visto recentemente. Cerca de três quartos do aço comercializado pela empresa seguem para a indústria automotiva.
No segmento industrial, comentou o executivo cerca de 50% dos contratos serão ajustados no trimestre em curso e o restante, nos três últimos meses do ano. Para o terceiro trimestre, os reajustes variaram de 3% a 5%.
“Na distribuição, a Usiminas está revisando os preços em função da pressão de custos, mas ainda não há um percentual definido”, afirmou. O aumento será aplicado ainda em agosto e vai compensar parte do impacto negativo da variação cambial vista nas últimas semanas, de 10% a 12%. “Nossa expectativa é repassar para a distribuição um ajuste de 5% a 7%”, acrescentou.
Em relação à demanda, Homes afirmou que a Usiminas está otimista com a segunda metade do ano, sobretudo após o desempenho mais forte das vendas visto em junho, que ficaram acima da média do segundo trimestre. “Esperamos a manutenção do nível de atividade no terceiro trimestre e vamos acompanhar essa evolução”.