As sabatinas representam uma oportunidade para que os candidatos detalhem propostas para a cidade, e também para que sejam questionados sobre diferentes aspectos de suas atuações políticas. As entrevistadoras serão as colunistas Vera Magalhães e Malu Gaspar, do “O Globo” e da CBN, os âncoras da rádio Débora Freitas e Fernando Andrade, e a colunista Maria Cristina Fernandes, do Valor e da CBN.
A equipe do Fato ou Fake checou as principais declarações de Guilherme Boulos. Leia:
“São Paulo hoje tem o maior orçamento em termos reais da história da cidade, R$ 112 bilhões, previsto R$ 119/120 bilhões na LDO do ano que vem. É o maior em termos reais.”
A declaração é #FATO. Veja por quê: O orçamento do município em 2024, aprovado pela Câmara Municipal, foi de R$ 111,8 bilhões, cerca de 16% a mais do que o aprovado para o Orçamento de 2023. É o maior da história da cidade de São Paulo. O legislativo paulistano estima que o orçamento de 2025 chegue a R$ 119 bilhões, 6,5% maior do que este ano, como afirmou o candidato.
“A situação fiscal, ao contrário do que o Ricardo Nunes tem dito, não se deve a ele. A dívida de São Paulo com a União foi renegociada no governo [de Fernando] Haddad. Era R$ 79 bilhões e foi para R$ 32 bilhões, por uma negociação do Haddad, que renegociou os juros e a dívida. A única coisa que Ricardo Nunes fez foi vender o Campo de Marte para a União, mas o grosso da dívida foi resolvida pelo [Fernando] Haddad.”
#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: Em 2016, seu último ano de mandato na prefeitura, o então prefeito Fernando Haddad chegou a uma negociação da dívida de São Paulo com a União. Com a renegociação, o saldo devedor do município caiu 63%, de R$ 74 bilhões para R$ 27,5 bilhões [ou de R$ 138,8 bilhões, em 2015, para R$ 68,7 bilhões em 2016, em valores corrigidos pela inflação]. Isso possibilitou, à época, uma redução de cerca de R$ 370 milhões para R$ 200 milhões na parcela mensal que a cidade pagava ao governo federal.
O prefeito Ricardo Nunes (MDB) também renegociou dívidas do município com a União. Em 2022, a prefeitura cedeu ao governo federal o Campo de Marte, aeroporto na zona norte da cidade. Em troca, conseguiu abater R$ 24 bilhões de sua dívida com a União.
Atualmente, a dívida pública da cidade de São Paulo com a União é da ordem de cerca de R$ 22,1 bilhões.
“Ricardo Nunes se colocou contra a vacinação. Antes disso tinha dito que o oito de janeiro não foi tentativa de golpe, foi manifestação. Antes disso, em vídeo na internet, ele disse que Bolsonaro tinha feito tudo certo.”
#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: Em entrevista ao podcast de Paulo Figueiredo e do canal Te Atualizei, Ricardo Nunes não disse ser contra a vacina da Covid-19. Na verdade, Nunes afirmou ter errado ao exigir o comprovante de vacinação na cidade de São Paulo durante a pandemia e se declarou contra a imunização obrigatória para prevenir a Covid-19.
Na mesma entrevista, o candidato à reeleição comparou a pena dada aos invasores com uma manifestação de 2015, na qual integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) ocuparam uma sede do Ministério da Fazenda, em São Paulo — retórica utilizada com frequência por bolsonaristas.
Em cortes na internet da entrevista de Ricardo Nunes no programa Roda Viva, o prefeito de São Paulo afirmou que apesar de ter criticado o ex-presidente no passado, sobretudo por conta das ameaças de Bolsonaro à democracia, disse que “não tem crítica a Bolsonaro”. O prefeito disse ter “sempre defendido” o que Bolsonaro prega. “Sempre teve uma relação daquilo que Bolsonaro sempre defendeu e daquilo que eu defendo”, afirmou.
“A fila de exame chegou a 452 mil pessoas na cidade de São Paulo.”
A declaração é #FATO. Veja por quê: Levantamento realizado pelo g1, em janeiro deste ano, aponta que a cidade de São Paulo tinha, ao menos, 445 mil pessoas na fila de espera para fazer um exame na rede pública municipal. O número representa um aumento de 52,4% em relação a 2022, quando 292.200 pessoas aguardavam por um exame.
A maioria das pessoas na fila espera por exames de endoscopia (avaliação do sistema digestivo por câmera). Atualmente, são 97 mil pacientes à espera desse tipo de procedimento, aumento de 72% em relação ao ano anterior. Já a espera por exames cardiológicos subiu 194%.
Em março do ano passado, reportagem do SP2, da TV Globo, mostrou que 459 mil pessoas estavam à espera para a realização de um algum tipo de exame médico na rede municipal de saúde da cidade de São Paulo.
Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde não contestou os números apresentados pelo candidato.
“Quando virei deputado federal, entrei em seis comissões, aprovei três PLs [Projeto de Lei] no primeiro ano de mandato.”
#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: Dos 504 projetos de autoria de Guilherme Boulos, dois foram aprovados e um já foi analisado em plenário no ano de 2023. O primeiro proíbe instituições financeiras de concederem empréstimo consignado sem autorização expressa do beneficiário. Quando Boulos apresentou o projeto, contudo, já existia outro semelhante em tramitação (o PL 2131, de 2007). Quando uma proposta apresentada é parecida com outra que já está tramitando, a Mesa da Câmara determina que a mais recente seja apensada (tramitada conjuntamente com proposições que tratam de assuntos iguais ou semelhantes) à mais antiga. A proposta que aprova multa a bancos que fizerem consignados sem autorização do beneficiário foi aprovada na Câmara.
O segundo projeto aprovado foi o que institui o Programa Cozinha Solidária, para a distribuição de alimentação gratuita à população em situação de vulnerabilidade e risco social, incluindo aquela em situação de rua. Assim como o projeto anteriormente mencionado, o texto proposto por Boulos foi tramitado na Câmara juntamente com um projeto anterior que possui pontos em comum com o apresentado por ele (o PL 3365/2021). A proposta foi aprovada na Casa e se tornou a lei que institui o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Cozinha Solidária, de 20 de julho de 2023.
Outro PL de Boulos, analisado em plenário, define agosto como o mês de combate às desigualdades. O texto possui três artigos e estabelece que no mês de agosto o Congresso analise políticas públicas de caráter social do governo federal, com a finalidade de “fiscalizar a implementação, consolidação e expansão” dessas ações. A Casa aprovou apenas o texto-base, mas os destaques ainda não foram votados, e o projeto, portanto, ainda não foi aprovado.
Além disso, no ano de 2023, Boulos foi titular em três comissões (Grupo de Trabalho sobre Política de Combate à Violência nas Escolas Brasileiras, Comissão de Desenvolvimento Urbano, Comissão Mista de Orçamento) e suplente em outras quatro (Comissão de Ciência, Tecnologia e Inovação, Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, Comissão de Finanças e Tributação, Comissão de Fiscalização Financeira e Controle).
“Vamos lembrar que o Ricardo Nunes foi o único prefeito desde o Celso Pitta que não começou ou entregou nenhum hospital municipal. (…) Entre M’Boi e Campo Limpo tem o Capão Redondo. O Capão Redondo é um bairro extremamente populoso. Não tem hospital. (…) Eu dei esse exemplo do Capão Redondo, poderia dar do Itaim Paulista, que também não tem hospital e tem uma fila muito grande.”
#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: A Secretaria Municipal da Saúde afirmou que desde 2021, a gestão de Bruno Covas e Ricardo Nunes entregou cinco hospitais para a capital: Hospital Integrado Santo Amaro, HM Lydia Storopoli, Hospital Cantareira, HM Brigadeiro e Hospital Sorocabana. Todas as unidades foram entegues entre 2020 e abril de 2021, enquanto Nunes ainda era vice-prefeito.
Sobre a falta de hospitais nos bairros citados, no Capão Redondo, na Zona Sul da capital, não há nenhum. De acordo com a prefeitura, a região conta a AMA 24 horas Capão Redondo e o Pronto Atendimento (PA) Jardim Macedônia para atendimento de urgência, tendo os Hospitais Municipais M’Boi Mirim, Campo Limpo e Guarapiranga como referências.
No entanto, no Itaim Paulista, na Zona Leste, está localizado o Hospital Santa Marcelina do Itaim Paulista, uma Organização Social de Saúde (OSS), que atende pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).
Participaram desta checagem: Daniel Biasetto, Filipe Vidon, Giovanna Durães, Klauson Dutra, Lucas Guimarães, Marsílea Gombata, Mel Trindade, Rayane Rocha e Thamila Soares