O uso do termo “net zero” no contexto das mudanças climáticas aumentou significativamente nos últimos anos. Uma busca online pelo termo produz mais de três milhões de resultados, ressaltando a importância das discussões em andamento sobre a questão.
Embora esse seja um bom sinal da crescente conscientização sobre as mudanças climáticas, é incerto se a compreensão do que o zero líquido realmente implica vai além da comunidade científica. Entender os conceitos básicos do também chamado zero líquido é fundamental para compreender melhor as nuances do termo e seu possível impacto na redução do aquecimento global.
Confira três pontos que ajudarão a atualizar a compreensão da ciência por trás do zero líquido.
O que é o zero líquido?
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Nos dias atuais, as emissões de poluentes excedem em muito a capacidade natural do planeta de compensá-las. Essas emissões se originam de várias fontes, incluindo o uso de combustíveis fósseis nos setores de energia e transporte, atividades industriais, agricultura e mudanças no uso da terra, como o desmatamento.
Elas podem ser compensadas tanto por meio de sumidouros naturais quanto por métodos tecnológicos. Exemplos notáveis de absorção natural de CO2 incluem florestas e ecossistemas como as turfeiras. Embora o papel das florestas seja amplamente reconhecido, as turfeiras, como pântanos e brejos, são menos conhecidas. Cobrem apenas 3% da superfície, mas podem armazenar duas vezes mais carbono do que todas as florestas do mundo juntas. Infelizmente, milhares de turfeiras são desmatadas para plantações de dendê.
Quanto às tecnologias para a remoção de carbono produzido pelo homem, a IEA (Agência Internacional de Energia, na sigla em inglês) ressalta a necessidade crucial da implantação em larga escala de tecnologias de remoção de carbono para atingir as metas de emissões líquidas zero. No entanto, essas tecnologias são atualmente caras e ainda precisam ser ampliadas.
Zero líquido de quê?
Pode haver dois tipos de zero líquido: emissões líquidas zero de CO2 e de GEE. Essas categorias diferem no escopo das emissões cobertas e nos prazos esperados para a realização global. Os gases específicos em cada categoria de zero líquido são fundamentais para garantir que os resultados estejam alinhados com as expectativas do Acordo de Paris, assinado em 2015.
Concentrar-se apenas no zero líquido para emissões de CO2 é insuficiente. É essencial reconhecer que, quando o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, em inglês), órgão científico que promove o conhecimento sobre as mudanças climáticas, discute o zero líquido para as emissões de CO2, ele destaca a necessidade de reduzir também os gases que não são CO2 – sendo que zerar o CO2 sem reduzir as emissões que não são CO2 resultaria em uma probabilidade menor de limitar o aquecimento global a 1,5 °C.
As emissões líquidas zero de carbono devem ser alcançadas por volta de 2055 para estabilizar o aquecimento global em 1,5 °C. Esse zero líquido refere-se à situação de equilíbrio, em que as emissões residuais são equilibradas por uma quantidade igual de remoção, obtida por meio de métodos naturais ou artificiais.
As emissões líquidas zero de GEEs, por outro lado, abrangem uma faixa mais ampla de emissões. Espera-se que isso seja alcançado uma ou duas décadas depois do CO2, entre 2061 e 2084. Como não há tecnologias no momento para remover esses outros gases, o aquecimento causado por eles deve ser tratado por quantidade equivalente de remoção de CO2.
O cumprimento das metas do net zero tem potencial de fazer mais do que apenas estabilizar o aquecimento global: poderia contribuir ativamente para decliná-lo, de acordo com o IPCC.
Qual a relação entre net zero e 1,5°C?
Alcançar o zero líquido limita o aumento global da temperatura em 1,5º C até 2100. As metas de emissões líquidas zero de CO2 e outros gases podem ser vistas como marcos intermediários no caminho para restringir o aumento da temperatura a 1,5º C. Isso significa que, ao zerar as emissões, as emissões cumulativas são estabilizadas nesse nível específico, sem mais aumentos que não possam ser compensados pela remoção.
É importante lembrar que as emissões cumulativas definem a meta de aquecimento global de 1,5º C, ou seja, o total de todas as emissões em um determinado período, e não as emissões isoladas em um determinado momento, como em um ano.
No caminho para o net zero, os cientistas esperam que possa haver um período em que a temperatura ultrapasse essa temperatura – como aconteceu recentemente – mas isso não deve ser motivo de pessimismo. A meta do Acordo de Paris baseia-se num aumento de temperatura de longo prazo: mais de uma década.
Conhecer os conceitos básicos do net zero e entender plenamente o que ele significa é essencial para compreender melhor a direção que o mundo está tomando para atingir suas metas climáticas. Hoje, 158 países (entre eles o Brasil), 265 cidades e 1.058 empresas estabeleceram metas de zero líquido. Seus esforços geram esperança de uma corrida mais rápida e impactante rumo a esse objetivo global.
*Simi Thambi é colaboradora da Forbes EUA. Economista climática, escreve sobre a intersecção da ciência climática e o mundo das finanças. Ela já trabalhou nas Nações Unidas e no FMI (Fundo Monetário Internacional)